quarta-feira, 28 de março de 2012

Desejos femininos

Toda puta
que se diz santa
quer ser musa.

Toda santa
que se diz musa
quer ser puta.

Toda musa
que se diz puta
quer ser santa.

Toda puta
que se diz puta
quer ser puta.

Toda santa
que se diz santa
quer ser santa.

Toda musa
que se diz musa
quer ser musa.

Toda musa
santa e puta
alguém usa!

Acordo

Quando eu lhe trouxer para perto
não me afaste!
Faça a sua,
pois eu já faço a minha parte. 

terça-feira, 27 de março de 2012

Nua

Antes que continue seu percurso pelo meu corpo, saiba:
você está pisando em terreno nunca antes habitado.
Isto não é um aviso, não é um pedido, nem um risco.
É apenas um fato.

Dia de semana

Chega o sol
passos apressados
hora de trabalhar.

A moça da loja
abre as portas
para o dia passar.

Trabalho pesado
tempo passando
hora de almoçar.

Fim de tarde
dia cansado
hora de acalmar.

A manequim
dentro da vitrine
vendo o mundo voltar.

Cada um pro seu lado
dentro do quarto
hora de sonhar.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Je suis desolée

Tanta gente interessante para conhecer
amigos por rever
caminhadas ao anoitecer
amores prestes a  acontecer
encontros sem saber
nuvens no céu a derreter
paixões para arder
banho na rua se chover
pequenos prazeres para viver
e você aí, na frente desta tela privé?
Sinto, querido, mas isto é tão demodê.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O que restou

Um amor partido
deixa ir embora
sonho dividido
planos construídos
futuro não decidido.

Resta presente doído
passado apagado
cada um pro seu lado
inventado saídas
para a despedida.

Sinal fechado

Vida é trânsito
em movimento

quando para
vira tormento.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ensaio sobre o barulho

Nesta dança improvisada que é a vida,
(tudo sempre pronto pra terminar),
conforta saber quem vai segurar a sua mão
na hora que a música silenciar.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Sobre as coisas latentes

A mancha do tapete conta mais de uma história que já não lembro mais.
Quem olha, acha bonito, questiona.
 Explico, acho desperdício.

Já tentei tirá-la, esfreguei, mas há algo que resiste.
Há algo que fica em algum canto esquecido
como ficam as lembranças.

Sua presença já não me incomoda,
embora seja apegada à beleza das coisas originais.

Tornou-se minha companheira em dias de silêncio; ouve-me.
Então eu me desmancho e posso compreendê-la.

Trata-se apenas de uma mancha sendo pisada,
repetidamente, até confundir-se com as cores do tapete.
Acomoda-se, deixando de ser mancha para ser enfeite.